Bocchi The Rock! Uma reflexão
Acho que o melhor momento para escrever uma resenha, análise, crítica, ou do como quiser chamar, de uma obra de arte é logo após assisti-la. Logo depois de a ter vivido intensamente e experienciado em detalhe, quando todas as sensações estão frescas e à flor da pele. Dito isso, acabei de assistir o anime hoje, movido (acho que como muitos outros) por não parar de ver aquela garota engraçada de cabelo rosa e olhos azuis em quase todos os lugares da internet.
"Bocchi The Rock!", da mesma maneira que outros populares títulos de animações japonesas tais como "K-ON", "Hibike!" e "So Ra No Wo To", tenta trazer ao público aquele aspecto da vida que é fácil de se relacionar como espectador, que é tranquilinho e faz você se sentir aquecido por dentro, mas com uma reviravolta! O personagem principal realmente tem uma ansiedade social f*****. E é nessa reviravolta de elementos narrativos guiados por aquela ansiedade f*****, que o anime sustenta todas as situações que cativam e divertem o espectador seja na comédia, no drama, na tensão e, principalmente, no desenvolvimento pessoal da nossa guitar hero favorita, Bocchi! Tudo através de sua perspectiva negativamente esperançosa da realidade (ou o que eu acredito ser negativamente esperançosa).
O que me pareceu mais interessante sobre "Bocchi the Rock!" não foi necessariamente a mistura do genero slice of life e dos elementos cômicos na narrativa geral da história, que dá o belo suco à história que Hamaji Aki articulou de maneira fantástica no mangá. O melhor da história é como a adaptação conseguiu capturar bem a perspectiva de uma pessoa ansiosa sobre o mundo e as coisas, e essencialmente como é visto o mundo a partir da perspectiva de adolescentes naquela idade jovem e efervescente de crescer, onde a opinião dos outros e o desejo de reconhecimento são tão importantes (afinal, é a idade onde a identidade começa a entrar em campo). Mas apesar disso tudo, a adaptação não deixa por menos, Bocchi não é uma garota humilde e pura, necessariamente solidária e com boas intenções. O que ela quer mesmo é ser reconhecida! Quer fama e sucesso antes de tudo, e não mede esforços para tentar conseguir isso, mesmo com os impedimentos psicológicos que a assombram.
Interessantemente, e para melhor, penso eu, embora o anime evite dar um momento traumático que causa o transtorno de ansiedade (extremamente grave) que ela tem, no início do anime entende-se que "simplesmente aconteceu" como algo que surgiu quando ela não conseguia participar de grupos e socializar desde pequena e esse comportamento foi reproduzido no resto de sua vida escolar, levando-a a desenvolver ansiedade devido à falta de interação social com pessoas fora do círculo familiar. De fato existem diversos estudos sobre o tema de que crianças precisam socializar desde cedo, por que isso pode afetar elas para o resto da vida! Eu achei que foi uma ótima sacada, ja que foi uma boa forma de abordar um assunto que pode ser tabu com um contexto muito mais amplo e socialmente estruturado, do que simplesmente dizer: “fizeram uma coisa horrível nela e agora ela ficou assim”. Ter estruturado a personalidade dela de uma forma amena que deixa espaço para o leitor pensar, e combinou mais com o clima geral do anime. E convenhamos, usar traumas para definir personagens inteiros já é um clichê tão abusado que novas formas de abordar problemas psicológicos para definir a personalidade dos personagens são muito bem-vindas, ainda mais se estruturadas de uma forma interessante como esta, pois não se trata apenas de "ela ficou assim porque ela não teve iniciativa individual", mas seus pais também nunca demonstraram nenhum esforço para ajudá-la a mudar e sempre assumiram que "é natural que ela seja assim", apenas apoiando-a passivamente no que ela estava disposta a fazer. Se tu parar pra pensar mais a fundo, isso revela um certo lado obscuro dos pais dela e deixa muito a pensar sobre o que é a parentalidade.
Minha pontuação final? Um merecido 9. A animação do estúdio CloverWorks, que vem animando outras tendências populares como o famigerado Darling in the Franxx, o adorado Seishun Buta Yarō e o "eu nunca assisti mas dizem que é legal" SpyxFamily, não deixou de trazer uma animação moderna, limpa e fluida. A trilha sonora lembra muito a qualidade rock impecável e agradável de "K-ON!" e sua que história transforma tudo em uma feliz comédia slice of life, fazendo você torcer por nossa constantemente ansiosa guitar hero favorita!
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